sexta-feira, 18 de abril de 2008

Cecilia Meireles


É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta

nem o fogo aceso

nem o sorriso para os infelizes

nem a oração de cada instante.


É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
(Cecília Meireles)

0 comentários: