quarta-feira, 9 de abril de 2008

FADA



Há em meu corpo calcinado o mapa de uma terra distante em que nem mil chuvas poderão fazer voltar a correr os rios que morreram ainda dentro dos teus olhos. Tenho em mim areia e fogo pisoteados pelo tempo e em meus cabelos uma vaga que nasceu junto do mais antigo mar. Não me olhe só com os olhos como se tuas mãos não fossem dignas do meu corpo. Toma-me nos braços tal qual um imenso barco, navega-me oceano e vento, livra-me das pedras, naufraga-me e resgata-me, invade minha boca, enfeita-me de algas, açoita-me em tempestade e raios, estende-me em vela alva, afoga-me e traz-me à tona, lúcida, rútila, aquática.
(Patrícia Antoniete)

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