sexta-feira, 2 de maio de 2008

Odylo da Costa Filho


"ELEGIA DA DESPEDIDA"
1
Na tristeza sem paz que desceu sobre mim
o silêncio não tem vozes
só tem angústia.
Contemplo longamente sob a chuva noturna
os campos onde o capim cresce solto e alto sugando o cheiro da
[terra para com ele seduzir as estrelas e os
[inumeráveis vaga-lumes.
As saudades ficam rondando nas esquinas a gente.
Talvez num momento destes possa fazer um canto
como desejaria fazer:
um canto para todos os homens,
em que falasse dos mortos, seus caminhos na floresta,
cujo perfume mais secreto e áspero podem a todo momento
[sentir,
das músicas puras e claras que continuamente devíamos ouvir,
um canto em que não pedisse piedade para mim
e em que estivesse tão pouco de mim mesmo
que a voz das crianças e dos pobres que amam e admiram os
[grandes quintais alheios
se fizesse ouvir em toda a sua livre timidez.
(Odylo da Costa Filho -1939- in "Cantiga incompleta")

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