segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Voltei...

As coisas que amamos,
As pessoas que amamos
São eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
No limite de nosso poder
De respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
Numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
E todos nós cansamos, por um outro itinerário,
De aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
Rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
Na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.”
Carlos Drummond de Andrade – “A hora do cansaço”

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