sábado, 7 de junho de 2008

Eugénio de Andrade


Uma abelha, dessas que dizem ser italianas, entrou pela janela,
obstinou-se em escolher-me, pousa-me no ombro, descansa de seus trabalhos.
Lisonjeado com aquela preferência, comecei a amá-la devagar,
retendo a respiração, com receio de que não tardasse
a dar pelo seu engano, que cedo viesse a descobrir
que não era eu a haste de onde se avistavam as dunas.
Mas o seu olhar tranquilizava, era calma ondulação do trigo.
Agora só uma interrogação perturba a minha alegria:
o que farei com o seu mel?
(Eugénio de Andrade)

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