quinta-feira, 27 de março de 2008

O vestido


No armário do meu quarto escondo de
tempo e traça meu vestido estampado
em fundo preto.
É de seda macia desenhada em
campânulas vermelhas à ponta de longas
hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um
rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu
corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória
guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem
minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
(Adélia Prado)

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