sábado, 10 de maio de 2008

OITO PÉROLAS DO ENSINAMENTO DE SHANKARA



1. O Atman (1) é autoluminoso, porque não necessita de sol e nem de luz nenhuma. Sua luminosidade é o conhecimento e manifesta-se igualmente através de todos os objetos. Sua luz não é o oposto da escuridão. Porém, até mesmo o sol, como todos os corpos incandescentes, depende de certas combinações para iluminar-se, e, ainda que combata a escuridão, nunca chega a eliminá-la por completo.

2. É estranho que um indivíduo, sabendo muito bem que seu corpo lhe pertence como qualquer móvel, siga condicionado com a idéia de que é o corpo.

3. Sou, em verdade, Brahman (2), sendo equânime e imperturbável. Minha natureza é existência, conhecimento e bem-aventurança – Sat-Chit-Ananda (3). Não sou o corpo, em nenhuma forma, seja densa, sutil ou causal. A isso os sábios chamam o verdadeiro conhecimento.

4. O fogo do conhecimento, que foi aceso pelo discernimento, queima, até a raiz, os efeitos de avidya (4).

5. Para aquele que foi mordido pela serpente da ignorância, o único remédio é o conhecimento de Brahman. De que podem lhe servir os Vedas, os mantras (5), as escrituras ou outros remédios?

6. Um ator pode vestir-se especialmente para uma representação, mas é sempre a mesma pessoa por baixo da roupa. Da mesma maneira, o perfeito conhecedor de Brahman sempre é Brahman, e nada mais.

7. A renúncia externa não tem muita eficácia. Abdicar do corpo ou do bastão e do pote de água, que são as insígnias de um monge, não significa liberação (moksha). Esta consiste na dissolução do nó do coração, a ignorância primária.

8. Se uma folha cai num rio ou numa encruzilhada, ou até mesmo num lugar santificado por Shiva, que bem ou mal pode causar à árvore? A destruição do corpo é como a queda da folha, flor ou fruto. Não afeta em nada o atman, que é nossa verdadeira natureza. Este sobrevive, como a árvore.

- Shankara (6) -

- Notas do sânscrito (por Wagner Borges):
1. Atman - o espírito; o ser imperecível; a centelha vital do divino; a essência espiritual.
2. Brahman - O Supremo, O Grande Arquiteto Do Universo, Deus, O Amor Maior Que Gera a Vida. Na verdade, O Supremo não é homem ou mulher, mas pura consciência além de toda forma. Por isso, tanto faz chamá-lo de Pai Celestial ou de Mãe Divina. Ele é Pai-Mãe de todos.
3. Sat-Chit-Ananda - Sat: "O Ser" - Chit: "Consciência" - Ananda: "Bem-Aventurança".
É um mantra muito utilizado pelos iogues. Significa que o atman (essência divina, espírito) está consciente e tem a nítida percepção cósmica de que está completamente permeado pela onipresença de Brahman no centro do coração espiritual.
4. Avydia – ignorância.
5. Mantra – palavra oriunda de Manas: Mente; e Tra: Controle. – Literalmente, significa "Controle da mente".
Determinadas palavras evocam uma atmosfera superior que facilita a concentração da mente e a entrada em estados alterados de consciência. Os mantras são palavras dotadas de particular vibração espiritual, sintonizadas com padrões vibracionais elevados. São análogos às palavras-senhas iniciáticas que ligam os iniciados aos planos superiores.
Pode-se dizer que os mantras são as palavras de poder evocativas de energias superiores. Como as palavras são apenas a exteriorização dos pensamentos revestidos de ondas sonoras, pode-se dizer também que os mantras são expressões da própria mente sintonizada em outros planos de manifestação.
6. Shankara: sábio hindu do século 9 d.C. - Autor de um livro clássico do Hinduísmo: “Viveka Chuda Mani”. Também é um dos epítetos do deus Shiva, um dos aspectos da trimurti hinduísta: Brahma – O Criador; Vishnu – O Preservador; e Shiva – O Transformador.
Logo, Shankara é considerado como um dos avatares de Shiva.
Obs.: A tradução literal de Shankara é “Aquele que dispensa bênçãos” – “dispensador de bênçãos”; ou seja, Shiva e, por extensão, os seus avatares.

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