Às vezes para à porta
com o olhar perdido e habituado ao silêncio,
há mais desertos ainda, dia
se morte noutros olhos.
Com a garganta habituada à sede,
com os pés às feridas,
saio para a rua
e já não há umbrais.
Ando um dia, passo outro,
acabo uma semana de vidros partidose tosse mais velha.
Hoje parece que sempre
choveu sobre mim,
e não me importa
se a chuva já não se parece ao esquecimento
e apenas deixa charcos,
paredes mais sujas
e fuligem e tristeza nos olhos de rímel,
ainda tenho sede
e não me importa
voltar às coisas más e aos velhos tugúrios
à procura de algo que não encontro nem recordo,
que costuma principiar por um encontro,
talvez por outra palavra
e corre o perigo de crispar-se
até à forma da folha da faca.
Às vezes tudo é tão estranho
que não basta continuar a andar.
(Alfonso Barrocal - Poesia Espanhola, anos 90
trad. Joaquim Manuel Magalhães - Relógio d´água 2000)
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