quinta-feira, 6 de março de 2008

Endecha


Embora a velha roseira insista neste agosto e
confirmem o recomeço estas mulheres grávidas,

eu sofro de um cansaço, intermitente como certas febres.

Me acontece lavar os cabelos e ir secá-los ao sol,
desavisada. Ocorre até que eu cante.

Mas pousa na canção a negra ave e eu desafino rouca,
em descompasso, uma perna mais corta,

a ausência ocupando todos os meus cômodos,
a lembrança endurecida no cristal
de uma pedra na uretra.
( ADÉLIA PRADO)

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