sábado, 12 de janeiro de 2008

Margarida
tanto pode
ser nome de uma flor
como de mona de equê
ou de mona de amapô.
Se escrevo Margarida
assim com M maiúsculo
é um nome de mulher,
inda que o neguem os músculos
do rapaz chamado Sérgio,
contido em Margarida
(e aqui já não é mais
verdadeira a recíproca).
Porém, essa Margarida
De que falo, em que pese
O antropônimo feminino,
menos que mona, é monera:
é, ao mesmo tempo, gente
e flor, seja nas diversas
pertinências entre si,
seja, afinal, por serem,
Margarida e margarida,
nos reinos respectivos,
da mesma ínfima classe,
condição intransponível.
#
Ainda que se encontrem
Entre a flor e a criatura
Mais traços de parecença
Do que a graça comum
( - que graça?!,
diriam todos,
com desdém, espezinhando
as duas humildes flores);
embora se leve em conta
o feitio, a natureza
vegetal que Margarida
tenha, com efeito, mesmo
assim não é concebível
que vegetar seja a sina
dessa flor original
pelos canteiros da vida
inumana, vegetal.
Por ordinária que seja
uma flor não se explica
que a espezinhem tanto
que lhe torçam o nariz.
Seja Margarida flor
que não se cheire,
mas nunca
será menos flor a flor
que floresce no monturo.
#
Em verdade, Margarida
nada tem da flor, exceto
o feitio vegetaldo porte esguio, feito
haste a manter erguido
o estandarte do prazer,
a flor da dignidade,
faça o tempo que fizer.
Menos que flor, Margarida
É vaso, um vaso público
Onde os assentados cagam
Adjetivos estúpidos.
Bem mais que pelo seu nome,
bem mais que pela razão
de que atende os seus bofe
sem becos e construções,
mas pela falta de sangue
(vida a fora suga
doem sub
empregos infames)
que a faz lânguida e pálida,
pela vidnha que leva
sempre atolada na merda,
Margarida é uma bicha,
por ser sobretudo verme
- por ser sobretudo verme,
como todos que vivemos
nesta vidinha de merda,
adubo do novo tempo,
estrume da primavera.
(Waldo Motta)

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