tanto pode
ser nome de uma flor
como de mona de equê
ou de mona de amapô.
Se escrevo Margarida
assim com M maiúsculo
é um nome de mulher,
inda que o neguem os músculos
do rapaz chamado Sérgio,
contido em Margarida
(e aqui já não é mais
verdadeira a recíproca).
Porém, essa Margarida
De que falo, em que pese
O antropônimo feminino,
menos que mona, é monera:
é, ao mesmo tempo, gente
e flor, seja nas diversas
pertinências entre si,
seja, afinal, por serem,
Margarida e margarida,
nos reinos respectivos,
da mesma ínfima classe,
condição intransponível.
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Ainda que se encontrem
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Ainda que se encontrem
Entre a flor e a criatura
Mais traços de parecença
Do que a graça comum
( - que graça?!,
diriam todos,
com desdém, espezinhando
as duas humildes flores);
embora se leve em conta
o feitio, a natureza
o feitio, a natureza
vegetal que Margarida
tenha, com efeito, mesmo
assim não é concebível
que vegetar seja a sina
que vegetar seja a sina
dessa flor original
pelos canteiros da vida
inumana, vegetal.
Por ordinária que seja
uma flor não se explica
que a espezinhem tanto
que lhe torçam o nariz.
Seja Margarida flor
que não se cheire,
mas nunca
será menos flor a flor
que floresce no monturo.
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Em verdade, Margarida
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Em verdade, Margarida
nada tem da flor, exceto
o feitio vegetaldo porte esguio, feito
haste a manter erguido
haste a manter erguido
o estandarte do prazer,
a flor da dignidade,
faça o tempo que fizer.
Menos que flor, Margarida
Menos que flor, Margarida
É vaso, um vaso público
Onde os assentados cagam
Adjetivos estúpidos.
Bem mais que pelo seu nome,
Bem mais que pelo seu nome,
bem mais que pela razão
de que atende os seus bofe
sem becos e construções,
mas pela falta de sangue
mas pela falta de sangue
(vida a fora suga
doem sub
empregos infames)
que a faz lânguida e pálida,
pela vidnha que leva
pela vidnha que leva
sempre atolada na merda,
Margarida é uma bicha,
por ser sobretudo verme
- por ser sobretudo verme,
- por ser sobretudo verme,
como todos que vivemos
nesta vidinha de merda,
adubo do novo tempo,
estrume da primavera.
(Waldo Motta)
estrume da primavera.
(Waldo Motta)
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