quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Amanhece



O poeta de penas já cantou.

Já nos seus altos versos adormece

O fantasma da noite que passou.

Como um halo de sonho acontecido,

A luz das coisas vai nascendo em nós;

Desenha-se na sombra o pressentido,

E a vida já tem gestos e tem voz.

Já novamente o sol doira a frescura

Da relva verde e do lençol de linho.

Outra vez há ternura

De gente a ver-se e de se ver caminho.

(Miguel Torga in "Diário II - 1943")

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